O que todas as pessoas precisam saber sobre Câncer de Mama – Cuidado Sem Limites

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O que todas as pessoas precisam saber sobre Câncer de Mama

Os primeiros relatos de câncer de mama em pessoas transgênero são da década de 1960 mas, mesmo com uma considerável evolução no entendimento e tratamento dessa população, a falta de informação por parte de equipes médicas e pacientes desfavorecem a prevenção e o diagnóstico precoce 

Não é à toa que o Câncer de Mama é muito associado à população feminina cisgênero pois, a cada ano, cerca de 65 mil mulheres cis são diagnosticadas com a doença. Especialistas afirmam ainda que 1 em cada 8 mulheres terão Câncer de Mama, durante suas vidas.

Entretanto os baixos números que relacionam as pessoas trans a esse tipo de câncer podem ser consequência de diversos fatores como falta de conhecimento por parte do paciente, a desinformação por parte das equipes médicas e até mesmo a baixa expectativa de vida entre essa parcela da população que ainda é equiparada à da Idade Média — por volta de 35 anos, de acordo com pesquisa realizada pela Prefeitura da Cidade de São Paulo em 2021. 

Em 2019, foi publicado um estudo realizado na University Medical Center, em Amsterdã, envolvendo 2.260 mulheres trans e, dentre elas, 15 foram diagnosticadas com Câncer de Mama, após uma média de 18 anos de tratamento hormonal. Dessa forma, grande parte dos casos em mulheres trans são atribuídos ao tempo de exposição ao estrogênio, hormônio que acentua características ditas como femininas. 

Mesmo sendo o hormônio um agente facilitador do Câncer de Mama em mulheres trans, segundo o Dr. Idam de Oliveira Jr, Mastologista do Hospital do Amor, em Barretos, referência no tratamento de câncer no Brasil, esse tipo de uso é seguro e deve ser acompanhado caso a caso. “A duração e a dosagem da terapia com estrogênio (hormônio feminino) podem desempenhar um papel na proliferação do tecido mamário normal e neoplásico. No entanto, os dados atuais são limitados sobre o real risco dessa exposição hormonal. De tal forma, vários estudos mostram que a terapia de estrogênio a curto e médio prazo é, provavelmente, segura em mulheres trans, desde que prescrita e acompanhada por equipe médica especializada”, explica. 

O mesmo estudo da University Medical Center apontou 5 casos de Câncer de Mama em homens trans, dentre os 1.229 pacientes envolvidos na pesquisa. Essa incidência ocorre mesmo após a cirurgia de retirada da mama — a mastectomia. “Resquícios glandulares permanecem no retalho da pele o que, associado à exposição hormonal do tratamento, pode desenvolver esse tipo de câncer”, esclarece Dr. Idam. 

Segundo a Dra. Felipe Medeiros, médica infectologista e mulher trans, os baixos números que relacionam transgêneros ao Câncer de Mama estão relacionados, também, à faixa etária e expectativa de vida, uma vez que a doença atinge, em sua maioria, pessoas acima de 40 anos. “A expectativa de vida em mulheres trans é de 35 anos, então, talvez não dê tempo para que váries sejam diagnosticades, porque são mortes antes disso. Dessa forma, até na literatura, os casos aparecem como raros”, explica. 

No geral, o Brasil tem grande desconhecimento acerca da doença. As dificuldades de acesso aos exames de prevenção e diagnóstico, até mesmo ao tratamento, impactam diretamente no número de pessoas que chegam aos consultórios e hospitais em estágios mais avançados. “Há uma desigualdade no país na distribuição de mamógrafos, que se concentram nas regiões Sul e Sudeste, e os centros oncológicos de tratamento que integram o SUS (Sistema Único de Saúde) estão localizados nas regiões mais desenvolvidas”, aponta Dr. Idam. 

Entre a população trans, além da falta de acesso, a transfobia também dificulta o diagnóstico e o tratamento de várias doenças, não apenas do Câncer de Mama. “Pessoas trans estão à margem da saúde em vários aspectos, principalmente no que diz respeito à prevenção de doenças e infecções, e sofrem transfobia no acesso à saúde, até mesmo particular, muito por desigualdade econômica” completa Dra. Felipe. 

Cuidar-se é um direito de todas as pessoas 

A conclusão é que, quando o assunto é Câncer de Mama, todas as pessoas estão em risco. Falar em prevenção é algo complexo, uma vez que existem diversos fatores, como a hereditariedade, que expõem mais ou menos o indivíduo aos diversos tipos de câncer.

 

Entretanto, diversas pesquisas já trazem a informação de que os hábitos saudáveis colaboram, e muito, para se garantir um futuro também saudável. Diminuir o consumo de alimentos ultraprocessados, assim como evitar o tabagismo e o álcool, além da prática de exercícios físicos, podem ajudar a se manter longe do câncer. 

Mas, o grande aliado na luta contra o Câncer de Mama é o diagnóstico precoce uma vez que, quando diagnosticado nos primeiros estágios, ele apresenta mais de 90% de chances de cura. Muito se fala sobre o autoexame, que tem a sua importância, mas que não substitui a mamografia e os exames de imagem pois, quando é perceptível ao toque, o nódulo já está avançado. 

Por isso são fundamentais as consultadas anuais e a realização da mamografia, de acordo com a orientação do médico. Ela poderá detectar até mesmo os menores tumores, viabilizando tratamentos menos invasivos/agressivos e maiores chances de cura. 

“Um conselho que eu daria a qualquer pessoa é: o Câncer de Mama é uma realidade, quanto antes o seu diagnóstico, melhor. Não esperem sentir algo nas mamas para buscar atendimento médico e realizar a mamografia”, diz Dr. Idam. 

“A principal ação para prevenção e diagnóstico precoce é a realização da Mamografia na época indicada. Mas, para isso, é preciso que aconteçam campanhas que foquem diretamente em pessoas trans, como a possibilidade de realização de exames em horários mais amplos, para acessar população que trabalha em períodos diversos. Esperamos ações mais inclusivas para que homens trans não sofram transfobia na realização e encaminhamento para o exame. São extremamente necessárias as medidas direcionadas a esse público”, diz Dra Felipe. “Sei que pessoas trans sofrem transfobia diariamente tentando acessar o sistema de saúde, então eu aconselho buscar profissionais LGBTQIAPN+ , para que a ponte seja menos dolorosa. Digo isso pois sofro transfobia diariamente como profissional de saúde e, também, sou usuária do SUS e serviços privados. O que digo é: lutem por seus direitos dentro da saúde todos os dias” finaliza. 

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